top of page

Performance artificial: Qual é a relação entre as IAs e o Viagra?

  • Foto do escritor: evelynrozenbaum
    evelynrozenbaum
  • 10 de abr. de 2023
  • 4 min de leitura

Tempo de leitura:4minutos


ree

Existem várias jornadas para vários produtos, porque existem diferentes consumidores, com diversas expectativas e, cada pessoa, antes de mais nada, é única. Dentro desse contexto e em função de conversas e do tamanho tabu em volta do assunto, decidi escrever sobre a experiência do consumidor de medicamentos potencializadores de ereção – o mais conhecido e property de marca o Viagra, o azulzinho!

Na busca por informações esbarramos em um tabu fortíssimo, dos homens héteros com mais de 50 anos. Entre todos que abordei, alguns relataram ter usado o medicamento só uma vez. A maioria veio com uma resposta breve e rápida “NÃO PRECISO!” – não deixando dúvidas sobre seu desconforto até mesmo com a ideia de falar sobre o assunto. Como não fujo da minha essência de psicóloga e pesquisadora, assumo as “não-respostas” como respostas até mais contundentes do que as das experiências contadas.

Neste mundo das jornadas continuei meu percurso e entrei no mundo do uso recreativo da droga. Jovens, que não tem nenhuma questão relacionada a disfunção erétil adotaram o Viagra como forma de garantir o pós-balada tal qual seria se não tivessem se drogado e, portanto, não dando chance ao acaso de conhecer alguém e não poder dar continuidade à noitada.

É importante deixar claro que esse comportamento foi um achado entre jovens homossexuais – sem o menor constrangimento de falar sobre o assunto. Estão interessados em viver ao máximo o seu prazer e é este passaporte que acaba sendo obtido quando misturam o Viagra a outros componentes. Mesmo com esta abertura, perceberam que há um certo constrangimento ao pedir pelo medicamento nas farmácias – o que vão pensar?. É interessante salientar que o uso do Viagra é até compartilhado dentro desses grupos, sem dramas, melindres, tabus e constrangimento!

Outro uso, que acredito que seja o mais conhecido, é por homens querendo garantir sua virilidade de outras épocas. Veja bem que este uso nada tem a ver com o uso da droga em casos de real disfunção erétil – é aí que as expectativas e experiências mudam, e muito, para todos.

Os homens que têm medo de não conseguir o resultado desejado, de não performar segundo suas expectativas estão criando super-homens às avessas. Homens em busca e vivendo no país das maravilhas, ao tomar o Viagra vestem suas capas de super-homem – por um lado escondem sua identidade; por outra, não precisam lidar com o medo.

Por suas competências – algumas natas e, outras, aperfeiçoadas com o tempo e suas jornadas pela vida, esses homens continuam atentos à sua caçada diariamente. E é exatamente através dessas skills e por mais uma série de características pessoais que conquistam e geram curiosidade em mulheres para ir adiante em seus encontros, crush, matches… tanto faz o nome, o importante é que, desde os homens da caverna, onde há faísca, tem há fogo: e assim acabam indo para a cama.

E é neste ponto que faço um paralelo do uso do ChapGPT e similares. Segundo a revista Pesquisa FAPESP, dois meses após o seu lançamento, essa tecnologia já era usada por mais de 100 milhões de pessoas, desencadeando uma explosão de experiências de escrita, algumas divertidas, outras preocupantes. São mecanismos que se inspiram no homem, se apoiam em aprendizados, buscando um resultado artificial muito semelhante ao conseguido pelo humano.

Agora, o que está acontecendo, é que a expectativa da jornada e o risco de destruição da imagem na qual o homem se resume caso falhe, faz com que a experiência que proporciona seja totalmente moldada em torno da sua performance de ereção, mecânica, deixando em segundo, terceiro plano ou até esquecendo de todo o aspecto individual e mágico do relacionamento humano. Imagine-se lendo “Afinidades Eletivas” reescrita por um IA, e deixando de lado todo o sentimento e maestria dos enlaces criados por Goethe!

Neste palco ainda há um segundo elemento, citado em justificativas do uso do Viagra: o desejo de satisfazer a companheira. Mas, como esta experiência costuma vir depois da dele – de atingir a plenitude em sua ereção -, o homem não percebe que está entregando algo totalmente mecânico, assim como textos sem autores, criados pelo GPT. E voltamos à comparação, da Revista Pesquisa FAPESP: “A tecnologia escreve letras de música e poemas, mas semelhantes a obras já conhecidas – o que pode ser suficiente para agradar determinados públicos. A habilidade de produzir conteúdo original e verdadeiramente inovador exigiria que esses sistemas fossem capazes de pensar de forma abstrata.”

Portanto, a fantasia de performar como super-homem não vai muito além da duração do “efeito Viagra”. Não se sustenta. As mulheres percebem quando a relação abre e o azulzinho deita com vocês. A capa de super-homem deixa transparecer medos e inseguranças que definitivamente fazem cair por água abaixo tudo que foi construído em cima do real, onde existe o humano, o original e o inusitado. E o mais interessante foram as entrevistas com as mulheres, pelos modos como percebem o uso do Viagra e o comportamento do parceiro em escondê-lo – nenhuma delas relatou ao companheiro ou sequer tocou no assunto! E não vamos nem entrar na questão de sexismo, pré-conceito e comportamento.

Portanto, experiências são experiências, bots são bots e Inteligência Artificial ainda é somente Inteligência Artificial. Chegam em um mundo rápido, que se comunica através de telas, ghosting, Rappis, Ubers, mas ainda trabalham para pessoas que sonham, sorriem, e estão ávidas por experiências reais, com pessoas humanas e que tenham conteúdo para muito mais que uma ereção!

 
 
 

Comentários


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Procurar por tags
Siga
  • Facebook Basic Square
  • Twitter Basic Square
  • Google+ Basic Square
bottom of page